A história contada por Orwell se passa na Granja do Solar, uma fazenda na Inglaterra que tinha como proprietário o senhor Jones. Galinhas, pombas, porcos, cachorros, cavalos, cabras, burros, ovelhas e vacas são os personagens centrais dessa narrativa. Os animais na ficção do escritor inglês possuem características humanas, fazem questionamentos densos, filosóficos, políticos e identitários. Eles organizam-se e tentam criar uma sociedade utópica após tecerem duras críticas ao homem, nesse caso representado pela figura do senhor Jones:
"O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para alcançar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza e, no entanto, nenhum de nós possui mais do que a própria pele. As vacas, que aqui vejo à minha frente, quantos litros de leite terão produzido este ano? E que aconteceu a esse leite, que deveria estar alimentando robustos bezerrinhos? Desceu pela garganta dos nossos inimigos. E as galinhas, quanto ovos puseram este ano, e quantos se transformaram em pintinhos? Os restantes foram para o mercado, fazer dinheiro para Jones e seus homens."
A fala acima foi dita pelo velho Major, um porco idoso e com profundo senso de justiça. O Major tinha como sonho tornar os animais da granja seres ricos e livres. Segundo ele, todos os homens eram inimigos e todos os animais eram camaradas e iguais. O Major iniciou um movimento na granja que pretendia reunir os animais e incitar uma rebelião. No entanto, morreu três dias depois de dar os primeiros passos em direção a uma sociedade igualitária. Assumiram o posto de comando após a morte do Major os porcos Bola de Neve, Garganta e Napoleão. Os três organizaram os ensinamentos do Major em um sistema de pensamento chamado Animalismo. O Animalismo é a teoria política fictícia que se assemelharia ao que teria sido o Stalinismo. O Major deu início à revolução embora não tivesse chegado à vê-la. O princípio básico do Animalismo se resumia à uma única frase: "Quatro pernas bom, duas pernas ruim." Os animais ganharam um hino intitulado Bichos da Inglaterra, que sublinhava a esperança e o desejo de igualdade entre todos.
Foram instituídos na nova sociedade os sete mandamentos:
1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.
Os bichos passaram a ser chamados de camaradas e todos os assuntos de interesse coletivo eram levados a votação em Assembleia. Numa das primeiras reuniões foi discutido, por exemplo, se os ratos eram ou não amigos dos animais. Em conjunto também votaram a idade de aposentadoria para cada classe de animal e decidiram instituir aula de alfabetização para todos. Foi durante encontros escondidos que se planejou uma rebelião. Um dia, o senhor Jones bebeu demais e esqueceu de dar comida aos animais. Foi o estopim e o princípio de uma nova era. Os bichos, diante da fome e da injustiça, juntaram-se e fizeram uma grande revolução, expulsando os humanos da fazenda. As mudanças foram rápidas e substanciais: a casa onde o senhor Jones e a sua mulher viviam virou um museu, o nome da propriedade foi alterado de Granja do Solar para Granja dos Bichos. A vida na propriedade rural corria bem após a revolução, mas apesar de todos trabalharem, Mimosa e o gato se esquivavam dos afazeres, aparecendo apenas na hora das refeições. Os porcos também não trabalhavam propriamente, apenas dirigiam e supervisionavam o trabalho dos outros. Eles afirmavam que, como eram donos de conhecimentos maiores e foram os precursores da revolução, era natural que assumissem a liderança. Bola de neve, Garganta e Napoleão gradualmente conseguiram privilégios na comunidade. O leite foi desaparecendo e acabou sendo encontrado na comida dos porcos, já as maçãs eram recolhidas na surdina e levadas para os porcos. Pequenos privilégios eram praticados por aqueles que se consideravam trabalhadores intelectuais. Um belo dia, o senhor Jones voltou para retomar a fazenda. Armado e acompanhado, regressou à granja com uma espingarda. Os animais, porém, conseguiram expulsar o antigo dono da propriedade. Bola de Neve, tentando otimizar a produção e o fornecimento de energia elétrica, propôs a construção de um moinho. O projeto avançou, mas gerou desentendimentos na cúpula do grupo. Por fim, durante uma reunião no celeiro, Bola de Neve acabou expulso por Napoleão. Os porcos mudaram-se para a casa onde vivia Jones, que inicialmente seria um museu. Napoleão, ambicioso, decidiu fazer negócios com outras granjas, obrigando os animais a aumentarem a produção. A situação piorou consideravelmente: os outros bichos tinham cada vez menos comida e cada vez mais trabalho. O líder chegou a proibir que os animais cantassem a música que tanto gostavam (Bichos da Terra) alegando que a canção só teria servido para os tempos da revolução. Napoleão passou a negociar os produtos da granja com os homens, entre eles Frederick, que deu um golpe na fazenda. A desavença transformou-se num conflito com direito a invasão da propriedade e morte de muitos animais. Com o tempo, a granja cresceu pois os animais foram dando crias. Os bichos transformaram o espaço em uma república e Napoleão, o único candidato ao cargo, foi eleito. Devido às relações comerciais com os homens, estreitou os laços com quem tanto odiava e colocou em prática métodos que facilitavam a produção, o controle de gastos com a ração e com os horários de trabalho. O porco foi ganhando características humanas, tornando-se tão corrupto quanto o antigo proprietário da granja. O final da história evidencia a simbiose entre o porco e o ser que ele antes detestava: o homem.
Fonte: https://www.culturagenial.com/a-revolucao-dos-bichos/